02 / Sabias que nem todo o desconforto emocional é patológico?

É natural experimentarmos uma ampla gama de emoções ao longo da vida e mesmo quando estas geram desconforto nem sempre é indicativo da presença de uma doença mental.

A tristeza, o medo, a raiva, a vergonha, a culpa, a ansiedade e o stress são exemplos de emoções e afetos comuns quando passamos por momentos difíceis na vida.

Qual a importância das emoções?

As emoções são fenómenos subjetivos, fisiológicos, com uma função e expressão especifica, permitem-nos reagir de forma adaptativa aos eventos importantes nas nossas vidas.

As emoções englobam quatro aspetos inter-relacionados da experiência humana:

Sentimentos – descrições subjetivas e verbais da experiência emocional;

Preparação fisiológica – como nosso corpo se mobiliza fisicamente para atender exigências do momento;

Função – o que especificamente queremos realizar naquele momento;

Expressão – como comunicamos a nossa experiência emocional publicamente a outras pessoas.

Infelizmente, na nossa cultura encoraja pouco a falarmos ou estudarmos sobre as emoções!

Muitas vezes, crescemos sem valorizar ou compreender o nosso funcionamento emocional através da não aceitação das emoções, acreditando em frases tóxicas e que invalidam o que sentimos como “tens de ser forte” ou “um homem não chora”, quando, na prática, é relevante expressar o que sentimos e aceitar todas as emoções, agradáveis e desagradáveis, pois todas têm uma função importante na nossa vida.

Ignorar as emoções, torna-nos entorpecidos em relação aquilo que é importante fazer ou alcançar.

Compreender as nossas emoções ajuda a construir uma vida mais significativa!

  • A tristeza é uma resposta emocional natural a eventos stressantes, perdas, deceções ou mudanças na vida, é inevitável sentir tristeza em alguns momentos da vida e no geral somos capazes de a gerir , pelo que não deverá ser considerado à partida o seu tratamento com psicofármacos.

    A tristeza pode variar em intensidade e duração, desde uma sensação passageira até um estado mais prolongado.

    É importante reconhecer e permitir-se sentir tristeza como parte do espectro emocional humano, pois ela pode favorecer a tomada de consciência (oferecer insights) sobre as nossas necessidades emocionais, ajudando-nos a processar e a lidar com eventos desafiadores.

    Embora seja completamente normal sentirmo-nos tristes, não é bom ficarmos tristes muitas vezes ou durante muito tempo. Caso não sejamos capazes de lidar com a tristeza sozinhos, podemos pedir ajuda de um profissional de saúde mental para que nos ensine estratégias de autorregulação emocional.

    Descobre com a Escola SaudavelMente o que podes fazer quando te sentires triste.

  • O medo é uma emoção básica e natural que surge em resposta a uma perceção de perigo, ameaça ou situação de risco. Por exemplo, sentirmos medo de águas profundas quando não sabemos nadar. No entanto, por vezes, o medo é exagerado e desnecessário, como, por exemplo, ter medo de falar em público.

    O medo pode desencadear uma série de respostas físicas e emocionais, como aumento da frequência cardíaca, sudorese, sensação de tensão muscular, pensamentos de evasão ou fuga, entre outros. Embora o medo possa ser protetor e útil em certas situações, como alertar-nos de perigos iminentes, ele também pode ser irracional ou desproporcional em relação à ameaça real, resultando em ansiedade ou fobia. É uma emoção complexa e multifacetada, que varia em intensidade e pode ser influenciada por experiências passadas, crenças pessoais e contexto social.

    Descobre com a Escola Saudável Mente o que podes fazer para ultrapassar os medos desnecessários.

  • Já todos nos sentimos com raiva e com vontade de gritar ou até bater em alguém!

    A raiva é uma emoção básica humana intensa e poderosa, caracterizada por sentimentos de irritação, hostilidade, frustração ou indignação em resposta a uma situação percebida como injusta, ameaçadora ou frustrante.

    Trata-se de uma reação natural diante de conflitos, injustiças, provocações ou violações de nossos limites pessoais.

    Quando expressa de maneira saudável e assertiva, a raiva pode ser uma ferramenta útil para comunicar limites, resolver conflitos e motivar mudanças positivas. No entanto, quando não é gerida adequadamente, pode levar a comportamentos destrutivos, conflitos interpessoais, problemas de saúde mental e física.

    É importante aprendermos a reconhecer, entender e lidar com a raiva de maneira construtiva, buscando estratégias de gestão emocional e comunicação eficaz.

    Descobre com a Escola SaudavelMente o que podes fazer quando te sentes com raiva.

  • A vergonha é uma emoção humana complexa e aversiva, geralmente associada a sentimentos de humilhação, constrangimento, inadequação ou autoconsciência negativa em relação a si mesmo. Esta emoção interfere na forma como agimos e está ligada ao modo como nos relacionamos com outras as pessoas. Esta emoção quando ativada pode vir acompanhada de reações fisiológicas, como rubor facial, sudorese ou evitamento de contato visual.

    Apesar da vergonha poder surgir de forma dolorosa e debilitante, esta emoção tem na sua génese um papel adaptativo, na medida em que incentiva à reflexão e ao autoaperfeiçoamento de modo a salvaguardar que agimos e ou funcionamos em conformidade com normas sociais.

    O que podes fazer quando sentimos vergonha?

    É importante adotar estratégias saudáveis para lidar com o desconforto que a vergonha pode provocar. Aqui estão algumas sugestões:

    • Reconhece e valida os teus sentimentos: aceita que é normal sentir vergonha em certas situações e não te julgues por isso.

    • Pratica a autocompaixão: trata-te com gentileza e compaixão, como farias com um amigo que está passando por uma situação semelhante. Lembra-te que todos nós cometemos erros e enfrentamos momentos que consideramos de fracasso.

    • Identifica a origem da vergonha: tenta compreender por que te estás asentir envergonhado. Identifica os pensamentos ou crenças subjacentes que estão contribuindo para o surgimento desta emoção.

    • Desafia os pensamentos negativos: questiona os pensamentos autodepreciativos que possam estar exacerbando a vergonha. Reflete sobre se estes pensamentos são realistas, se te ajudam ou te prejudicam.

    • Pratica a autorreflexão construtiva: usa a experiência de vergonha como uma oportunidade para aprender e crescer. Descobre o que podes aprender com a situação e como podes agir de forma diferente no futuro.

    • Conversa com alguém de confiança: partilha que estás a sentir com alguém de confiança, visto que poderá ajudar a aliviar o peso emocional, proporcionar apoio e uma perspetiva externa.

    • Procura ajuda profissional: se a vergonha persistir ou interferir significativamente com a tua vida diária, considera procurar a ajuda de um profissional de saúde mental.

    Por vezes a vergonha é associada à culpa, mas vários estudos mostram que são emoções distintas que não devem ser confundidas.

    Como posso distinguir a vergonha da culpa?

    A vergonha não está ligada a algo específico que fizemos, mas sim a sentir que temos algo de errado em todo o nosso ser. Está relacionada com o nosso valor como pessoa - "Eu sou um erro". Por sua vez, a culpa surge quando percebemos que fizemos algo errado e nos arrependemos. Está relacionada com nossas ações - "Eu fiz algo errado".

    Tanto a vergonha como a culpa são emoções sociais sendo que aquilo que as provoca pode variar de acordo com o que é tido como “certo” e “errado” em cada cultura. Indivíduos expostos a contextos mais exigentes/rígidos relativamente ao que poderá ser considerado uma falha estão sujeitos a sentir maiores níveis de vergonha e culpa.

    Fontes:

  • A culpa é um estado emocional que ocorre quando avaliamos negativamente o nosso comportamento e nos sentimos o impulso de reparar o dano que esta ação poderá ter gerado.

    Habitualmente, a culpa surge acompanhada por sentimentos de remorso, arrependimento, autocondenação e responsabilidade pelo comportamento considerado inadequado ou prejudicial.

    Embora a culpa possa ser um sinal de consciência moral e levar à reflexão e ao reparo de danos, também pode ser debilitante e prejudicial quando excessiva ou não justificada. É importante aprendermos a lidar com a culpa de forma saudável, reconhecendo-a, assumindo responsabilidade por ações inadequadas quando necessário e procurando o perdão, tanto para connosco mesmos como dos outros, quando apropriado.

    O que podes fazer quando sentimos culpa?

    • Reflete sobre o teu nível de responsabilidade pelo que aconteceu:

      • Se um amigo meu experienciasse a mesma situação iria culpá-lo pelo que aconteceu?

      • A situação estava sob o meu controle?

      • Eu percebi as potenciais consequências do meu comportamento?

    • Avalia a gravidade das consequências:

      • Se um amigo meu fosse responsável, quais seriam as consequências?

      • Se alguém tivesse feito o mesmo comigo, quão importante isto seria para mim?

      • O quão importante seriam as consequências da situação daqui a 5 anos?

      • Pode alguma consequência/prejuízo ser reparado?

    • Pedir desculpas, se te fizer sentido. Este pedido pode ser de forma direta (pedir desculpas diretamente a alguém) ou de forma simbólica (e.g.: escrever uma carta).

    Fonte: Ciencias.ulisboa.pt

  • A ansiedade é uma reação normal ao perigo ou ao stress do dia a dia, pode ter uma função adaptativa e contribuiu para a sobrevivência da espécie humana ao longo dos tempos.

    Surge em situações em que existe uma possível ameaça, seja esta real ou imaginária. É muitas vezes útil porque funciona como um sistema de alerta do nosso corpo, deixando-nos mais preparados para lidar com qualquer imprevisto.

    A ansiedade funcional:

    • tem uma causa aparente,

    • dura pouco tempo,

    • não exige um esforço demasiado intenso para que se seja capaz de controlá-la e superá-la.

    A ansiedade disfuncional:

    • surge demasiadas vezes e/ou por longos períodos de tempo (mais de 2 semanas);

    • apresenta sintomas intensos e assustadores;

    • gera sensação de perda de controlo sobre ti próprio/a.

    Esta ansiedade exagerada causa sofrimento e pode significar que existe uma doença.

    O que podes fazer para melhor gerires a tua ansiedade:

    • Fala com alguém em quem confias (familiar ou amigo);

    • Foca-te no que consegues controlar: respira fundo, planeia e organiza os teus dias;

    • Realiza atividade física e outras atividades que te deem prazer;

    • Muda o foco da tua atenção: experimenta desenhar, pintar, cozinhar ou ver uma série, atividades repetitivas podem ajudar a relaxar

    • Escreve! Põe os teus pensamentos e sentimentos no papel.

    Pede ajuda de um profissional de saúde! O Psicólogo, em particular, pode ajudar-te a compreender a tua ansiedade, a lidar melhor com ela e a mudar alguns dos teus pensamentos e comportamentos.

    Fontes:

  • Todos nós sentimos stress!

    O stress é uma reação normal às pressões do dia a dia, mas pode se tornar prejudicial quando a sua exposição é continua e prolongada no tempo e, consequentemente, perturba o nosso funcionamento diário. O stress pode provocar alterações em quase todos os sistemas do nosso corpo e influencia o modo como nos sentimos e comportamos.

    Ao causar alterações na nossa mente e corpo, uma exposição prolongada ao stress pode contribuir para o desenvolvimento e/ou agravamento de perturbações psicológicas e fisiológicas, reduzindo a nossa qualidade de vida.

    Queres saber mais sobre stress?

    Lê este artigo publicado no EU.SINTO.ME

  • A timidez é uma característica da personalidade que se manifesta como um desconforto ou inibição em situações sociais ou interações com outras pessoas. Pessoas tímidas tendem a se sentir ansiosas em situações sociais, especialmente em ambientes desconhecidos ou quando estão no centro das atenções. Isso pode resultar em dificuldade em iniciar conversas, fazer amizades, participar de atividades em grupo ou expressar opiniões pessoais.

    A timidez pode variar em intensidade, desde uma sensação leve de desconforto até um medo intenso de interação social, conhecido como fobia social.

    As pessoas tímidas precisam de mais tempo para se habituarem às mudanças e podem preferir situações e pessoas conhecidas. Preferem observar os outros a juntarem-se a uma atividade de grupo. Normalmente levam mais tempo a sentirem-se confortáveis com pessoas e situações novas.

    A timidez pode ser influenciada por vários fatores, tais como:

    • genéticos

    • experiências de vida (e.g.: eventos traumáticos)

    • nível de autoestima e/ou perceção de autoeficácia

    • traços de personalidade (introvertidos)

    • ambiente familiar,pressões sociais e influências culturais a que a pessoa está exposta.

    A timidez não é necessariamente um problema!

    Nem sempre sabemos apreciar as vantagens de ser tímido. Por exemplo, a timidez faz-nos preferir ouvir a falar, o que pode tornar-nos muito bons ouvintes e particularmente sensíveis aos sentimentos das outras pessoas. Estas características podem ajudar-nos a ser melhores como amigos! Por outro lado, se queremos tornar-nos menos tímidos devemos recordar que ultrapassar a timidez requer tempo e treino.

    Descobre com a Escola SaudavelMente o que podes fazer para ultrapassar a timidez .

  • O luto surge como uma resposta emocional natural e normal à perda de algo significativo, como a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento, a perda de um emprego ou qualquer outra forma de separação ou mudança irreversível. É um processo complexo que envolve uma série de reações emocionais, cognitivas, físicas e comportamentais à perda.

    O luto pode implicar:

    • diferentes momentos (da negação ao choque, tristeza e aceitação)

    • emoções intensas (e.g.: desespero, raiva, angústia, sensação de vazio, confusão ou não sentir nada)

    • diferentes respostas do corpo (e.g.: agitação ou falta de energia, exaustão ou apatia),

    • pensamentos ambivalentes e contraditórios ou um impacto negativo no nosso comportamento (e.g.: não conseguir tomar decisões, beber demasiado, passar grande parte do tempo a chorar ou ter a necessidade de estar sempre ocupado/a).

    O luto é uma experiência altamente individual e pode variar, significativamente, de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como a natureza da perda, o apoio social disponível, crenças culturais e recursos pessoais de enfrentamento. É um processo que geralmente ocorre ao longo do tempo e pode não seguir uma progressão linear, manifestando-se com altos e baixos emocionais.

    É importante permitir-se vivenciar o luto de forma saudável e procurar apoio emocional quando necessário para enfrentar a perda e ajustar-se a uma nova realidade.

    Como distinguir um processo de luto normal do luto patológico?

    O luto representa um período de adaptação a uma perda significativa. No entanto, poderemos considerar que o processo está a ser complicado e ponderar a necessidade de recorrer a ajuda quando:

    • Este se arrasta por um período prolongado (mais de seis meses para as crianças e pelo menos 12 meses para os adultos)

    • Os sintomas apresentam gravidade suficiente para interferir com a forma da pessoa funcionar

    • A pessoa apresenta respostas emocionais incoerentes com a perda,

    • A pessoa apresenta um luto tardio, ou seja, quando os sintomas geralmente experienciados no luto não ocorrem nas primeiras semanas após a morte.

    Queres saber mais? Descobre no Eusinto.me.